O que sou?
Eu queria um poema que não precisasse de papel:
Que dormisse em águas diáfanas de horas gastas a olhar o nada
Que levantasse do seu trono de ar erguendo bandeiras invisíveis
E arrastando exércitos imaginários
Que trocasse linhas líricas por dentes de leite da juventude enferrujada
Que cerrasse os punhos para os tanques e fuzis de hoje e de amanhã
Um poema que escapasse pelas grades da mente anormal arrombasse os portões do pudor e da censura saltasse pela garganta molhada de desespero escapasse pelas brechas de nossas mãos sujas de humanidade e entrasse no frio do mundo de nós mesmos perguntando se viver dói tanto quanto parece.
Ajoelhasse
Pedisse
Chorasse
Morresse
Eu queria um poema que impedisse um pai de apagar a Luz
E que beijasse a boca dos que não merecem.
Caro, Bruno.Acabo de lhe conhecer e notar tua forte "veia" poética. Teu escrito tem uma elegância precoce e jovial. Sem o perceber, inclinastes as recomendações rilkeanas, para quem a nada pior do que a racionalização da crítica para penetrar uma obra de arte.Talvez isso também esteja ao ponto de lograr traduzir este teu poema: essa epifania sensível do espírito, um poema que quer ser de letra viva, ser édipo, um poema grafado no espelho enamorado, mas que quer também liberar seu narciso numa fusão catastrófico ao afoga-lo, "pulsão de ser"

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2 Comments to "Entre a Vertigem e a Epifania"